Sequência Didática

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Crônica - Da utilidade dos animais

A crônica que você vai ler foi redigida por Carlos Drummond de Andrade, um grande cronista brasileiro. Graças ao trabalho dele, os jornais de todo o dia ganharam páginas de sentimento, humor e reflexão...  Agora, que tal refletir um pouco sobre os texto dele?
"Da utilidade dos animais"
Terceiro dia de aula.  A professora é um amor.  Na sala, estampas coloridas mostram animais de todos os feitos.  É preciso querer bem a eles, diz a professora,  com um sorriso que envolve toda a fauna, protegendo-a.  Eles têm direito à vida, como nós, e além disso são muito úteis. Quem não sabe que o cachorro é o maior amigo da gente?  Cachorro faz muita falta. Mas não é só ele não.  A galinha, o peixe, a vaca... Todos ajudam
- Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda?                                                                                           
- Aquele? É o iaque, um boi da Ásia Central.  Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pelo  se fazem perucas bacaninhas.  E a carne, dizem que é gostosa.
-Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele?
- Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante, Este é o texugo. Se vocês quiserem pintar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo.
- Ele faz pincel, professora?
-Quem, o texugo? Não, só fornece o pelo.  Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar  quando crescer.
Arturzinho objetou que pretende usar barbeador elétrico.  Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas  a professora já explicava a utilidade do canguru:
- Bolsas, malas, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente.  Não falando na carne.  Canguru é utilíssimo.
-Vivo, fessora?
-A vicunha, que vocês estão aí, produz...produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pelo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores, etc.
- Depois a gente come a vicunha, né, fessora?
-Daniel, não é preciso comer todos os animais, Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer...
- E a gente torna a cortar? Ela não tem sossego, tadinha.
-Vejam agora como a zebra é camarada.  Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete.  Também se aproveita a carne , sabem?
-A carne também é listrada? – pergunta que desencadeia riso geral.
-Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber  direito as coisas,  Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada.  Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto.  Ah, o pinguim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza.  Pensam que só serve para brincar? Estão enganados. Vocês deve respeitar o bichinho.  O excremento – não sabem o que é?  O coco do pinguim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato.  O óleo feito com a gordura do pinguim...
-A senhora disse que a gente deve respeitar.
-Claro. Mas o óleo é bom.
-Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa.
-Pois lucra.  O pelo dá escovas de ótima qualidade.
-E o castor?
-Pois quando voltar a moda do chapéu para homens, o castor vai prestar muito serviço.  Aliás, já  presta , com a pele usada para agasalhos.  É o que se pode chamar um bom exemplo.
-Eu, hem?
-Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living de sua casa.  Do couro da girafa, Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pelos da cauda para Teresa fazer o bracelete genial.  A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não calculam.  Comem-se os ovos e toma-se a sopa:  uma de-lí-cia.  O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa... O biguá é engraçado.
-Engraçado, como?
-Apanha peixe pra gente.
-Apanha e entrega, professora?
-Não é bem assim.  Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir.  Então você tira o peixe da goela do biguá.
-Bobo que ele é.
-Não.  É útil.  Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras.  Por isso que eu digo: devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum. Entendeu, Ricardo?
-Entendi.  A gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pelo, o couro e os ossos.

No texto acima o autor mostra o cotidiano e o ser humano de forma simples, poética.

O cronista precisa viver o dia a dia com os olhos atentos aos menores detalhes.  Nada  passa em branco e o que seria apenas  um flash da realidade, transforma-se em grande literatura.

O cronista acompanha tudo com olhar curioso e bem humorado sobre o ser humano e seu cotidiano.

Humor, sutileza com que são tratados os assuntos do cotidiano e acontecimentos delicados, revelam o cômico, o belo dos acontecimentos comuns.

Para o escritor fazer seu texto ele usa recursos como:

-Ironia - usada para dizer o contrário daquilo que se pensa, com a intenção   de  criticar  ou ridicularizar alguma coisa ou alguém.

-Metáfora - a professora expõe uma visão, muito comum, sobre os animais. Alguns alunos não se convencem dessa maneira de encarar o assunto. E você o que acha?

É bom lembrar que a visão sobre a natureza de sua serventia e simples  utilidade de consumo, era mais usual  antes de tomarem força tanto a devastação  do meio ambiente quanto a consciência ecológica, a qual prega que o que mais precisamos, hoje, é preservar a natureza

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